domingo, 4 de agosto de 2013

Variação Linguística

Variação  Linguística



A língua portuguesa é o código mais utilizado por nós, brasileiros, nas situações de comunicação e interação social. Criei este blog para falar sobre o tema variação linguística e suas vertentes. Darei uma breve definição sobre língua e em seguida tratarei do tema variação linguística.
Língua é um código formado por signos (palavras) e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si.
Língua é a linguagem verbal (oral/escrita) utilizada por um grupo de indivíduos que constituem uma comunidade.
·         Ela é uma construção humana e histórica;
·         É organizadora da identidade dos seus usuários;
·         Ela também dá unidade a uma cultura, a uma nação;
·         Uma língua viva é dinâmica e, por isso, está sujeita a variações.

Variações linguísticas são diferenças que uma mesma língua apresenta quando é utilizada, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas.

 Onde se fala melhor o português no Brasil?
Você já deve ter ouvido esse tipo de pergunta. E também respostas como “no Maranhão”, no Rio de Janeiro”,” no Rio Grande do Sul” justificadas por motivos históricos, sociais, culturais. Porém, de acordo com a visão moderna de língua, não existi um modelo linguístico que deva ser seguido, nem mesmo o português lusitano.
 Todas as variedades linguísticas regionais são perfeitamente adequadas á realidade onde surgiram. Em certos contextos, aliás, o uso de outra variedade, mesmo que seja a língua padrão, é que pode soar estranho e até não cumprir sua função essencial de comunicar.
Variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
Entre as variedades da língua, existe uma que tem maior prestígio: a variedade padrão. Também conhecida como língua padrão e norma culta, essa variedade é utilizada na maior parte dos livros, jornais, e revistas, em alguns programas de televisão, nos livros científicos e didáticos, e é ensinada na escola. As demais variedades linguísticas - como a regional, a gíria, o jargão de grupos ou profissões (a linguagem dos policiais, dos jogadores de futebol, dos metaleiros, dos surfistas, etc.) – são chamadas genericamente de variedades não padrão.
Variedade padrão, língua padrão ou norma culta é a variedade linguística de maior prestígio social.
Variedade não padrão ou língua não padrão são todas as variedades linguísticas diferentes da padrão.
Apesar de haver muitos preconceitos sociais em relação a variedades não padrão, todas elas são válidas e tem valor nos grupos ou nas comunidades em que são usadas. Contudo, em situações sociais que exigem maior formalidade- por exemplo, uma entrevista de emprego, um requerimento, uma carta dirigida a um jornal ou uma revista, uma exposição publica, uma redação num concurso publico – a variedade linguística exigida quase sempre é a padrão. Por isso é importante dominá-la bem.
Norma culta ou norma padrão?
Se há tantas variações de uma língua, qual delas é a ensinada na escola? Por que essa e não as demais? “Quem” faz essa escolha? Essas perguntas apenas refletem um fato: de todas as variações, uma tem mais prestígio que as demais e acaba por ser escolhida como Padrão a todos os falantes.

“Dialeto padrão: também chamado norma padrão culta, ou, simplesmente norma culta, é o dialeto a que se atribui, em determinado contexto social, maior prestígio; é considerado o modelo – daí a designação de padrão, de norma – segundo o qual se avaliam os demais dialetos. É o dialeto falado pelas classes sociais privilegiadas, particularmente em situações de maior formalidade, usado nos meios de comunicação de massa (jornais, revistas, noticiários de televisão, etc.), ensinado na escola, e codificado nas gramáticas escolares (por isso, é corrente a falsa ideia de que só o dialeto padrão pode ter uma gramática, quando qualquer variedade linguística pode ter a sua). É ainda, fundamentalmente, o dialeto usado quando se escreve (há naturalmente, diferenças formais, que decorrem das condições específicas de produção da língua escrita, por exemplo, de sua descontextualização. Excetuadas diferenças de pronúncia e pequenas diferenças de vocabulário, o dialeto padrão sobrepõe-se aos dialetos regionais, e é o mesmo, em toda a extensão do país”
                                                                                                     Magda Soares
Exemplos com humor da norma padrão:

Tipos de Variações Linguísticas  
·         Variação Histórica  
·         Variação Geográfica  
·         Variação Social  
·         Variação Situacional

Variação Histórica

Refere-se aos estágios de desenvolvimento de uma língua ao longo da História.
Exemplo: português arcaico x português contemporâneo.
 Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, século XVI:

 “De ponta a ponta, é tudo praia... Muito chã e muito formosa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata... Porém a terra em si é de muitos bons ares, assim frios e temperados... Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa, que querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto que dela pode tirar me parece será salvar essa gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.” (tradução)


Dado o dinamismo que a língua apresenta, a mesma sofre transformações ao longo do tempo. Um exemplo bastante comum é a questão da ortografia, se levarmos em consideração a palavra farmácia, antigamente era grafada com “ph”, opondo-se à linguagem dos internautas, a qual suprime os vocábulos.

Analisemos, o fragmento exposto:

Antigamente

“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio." 
                                                               Carlos Drummond de Andrade
Em comparação à modernidade, percebemos um vocabulário antiquado.

Variação Geográfica
Variedade que a Língua Portuguesa assume nos diferentes lugares onde ela é falada.



O Português é a língua oficial em oito países de quatro continentes: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste.

Observe este quadro:
Este anúncio faz um trocadilho entre “bichas” (filas) que ocorrem nos centros urbanos, e “bichos”, símbolo da natureza. O texto talvez pareça estranho ao falante da língua portuguesa que mora no Brasil. Para nós, as pessoas formam filas (e não bichas) quando aguardam sua vez de serem atendidas em um banco, etc. Nós percebemos  que a maneira como o português é empregado no Brasil e em Portugal não é exatamente a mesma, assim como também  é diferente nas regiões geográficas brasileiras. Usaremos como exemplo o Sudeste: os modos de fala de Minas Gerais e do Rio de Janeiro apresentam suas peculiaridades e distinções. Do mesmo modo, as regiões urbanas e as regiões rurais também possuem vocabulário e pronúncia diferentes, bem como expressões típicas. Portanto, há variações na língua dependendo dos aspectos geográficos.
No Brasil, cada região possui diferenças linguísticas, tanto na fala como no vocabulário.
Como exemplo, citamos a palavra mandioca que, em certos lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como:macaxeira e aipim. Representando também esta modalidade estão os sotaques, ligados às características orais da linguagem.
Na próxima postagem, falarei de regionalismos e continuarei com o assunto sobre variação linguística.



Regionalismos


Regionalismos

O Brasil é um país com um território amplo e mesmo assim ainda possui uma língua única. Além de contribuir para uma grande diversidade nos hábitos culturais, religiosos, políticos e artísticos, a influência de várias culturas deixou na língua portuguesa marcas que acentuam a riqueza de vocabulário e de pronúncia. É importante destacar que as diferenças na nossa língua não constituem erro, mas são consequências das marcas deixadas por outros idiomas que entraram na formação do português brasileiro. Entre esses idiomas estão os indígenas e africanos, além dos europeus, como o francês e o italiano. A influência desses elementos presentes em cada região do país, aliada ao desenvolvimento histórico de cada lugar, fez com que surgissem regionalismos, isto é, expressões típicas de determinada região. Essa variedade linguística pode se manifestar na construção sintática – por exemplo, em algumas regiões se diz "sei não", em outras "não sei", mas a grande maioria dos regionalismos ocorre no vocabulário. Assim, um mesmo objeto pode ser nomeado por palavras, diversas, conforme a região. Por exemplo: no Rio Grande do Sul, a pipa ou papagaio se chama pandorga; o semáforo pode ser designado por farol em São Paulo, e sinal ou sinaleiro no Rio de Janeiro.
Regionalismo é, na língua, o emprego de palavras ou expressões peculiares a determinadas regiões. Em literatura, é a produção literária que focaliza especialmente usos, costumes, falares e tradições regionais.
Exemplos de regionalismos:
Nordestinês:
Abestado = Bobo, leso, tolo.
Abirobado = Maluco.
Abufelar - Irritar, ficar brabo.
Amancebado = Amigado, aquele que vive maritalmente com outra.
Amarrado = mesquinho; avarento.
Arretado = tudo que é bom; bacana; legal.
Avalie = Imagine.
Avariado das idéias = meio amalucado.
Avexado = Apressado.
Bater a caçuleta = Morrer.
Bizonho = triste, calado.
Brenha = Lugar longe de difícil acesso; escuro.
Briba = Pequena lagartixa.
Bruguelo = Criança pequena
Se um paulista conversar com um morador do Espírito Santo ele pode ouvir as seguintes palavras:
Taruíra: lagartixa
Pocar: estourar, arrebentar
Pão de sal: pão francês

Essas palavras são apenas alguns exemplos de como a linguagem varia de região para região.


Expressões  típicas da região nordeste:


Expressões típicas da região sul:
Expressões relativas ao norte brasileiro:


Outros exemplos, o famoso “Caipira”:

Exemplo mineiro:


Exemplo gaúcho:

Variação Social
         
Refere-se às formas da língua empregadas pelas diferentes classes ou grupos sociais. 
 “o réu vive de espórtula, tanto que é notória sua cacosmia”. (linguajar jurídico).
Oi rapeize do surf brigadão pela moral que vcs tão me dando, pow ta muito bom quando ta batendo aquelas ondas na prainha. Tá show, valeu brigadão. (conversa de surfista). 

Gíria:

 A gíria é uma das variedades que uma língua pode apresentar. Quase sempre é criada por um grupo social, como o dos fãs de rap, de funk, de heavy metal, o dos surfistas, dos skatistas, dos grafiteiros, etc.
Existe também a nova linguagem virtual o famoso internetês. Exemplos:


É um grande problema quando falamos gírias com quem possivelmente não compreenda. Por isso existe a língua padrão, para evitar que pessoas não entendam a linguagem de outras.

Os jargões estão relacionados ao profissionalismo, caracterizando um linguajar técnico. Representando a classe, podemos citar os médicos, advogados, profissionais da área de informática, dentre outros.

Exemplos de jargões jornalísticos:
cabeça: chamada para matéria;
cair: deixar de publicar uma matéria;
enxugar: tornar o texto mais objetivo, mais curto.
foca: jornalista recém-formado.
limar: tirar do texto as informações menos importantes.

Exemplos de algumas gírias do funk:
Abalar: Causar boa impressão.
Alemão: Pessoa de caráter duvidoso. Falso, duvidoso, velhaco.
Bucha: Pessoa inconveniente, importuna, safado.
Cap (quép): Boné
Sangue Bom: Pessoa de qualidade, boa índole.Zoar: Agitar, fazer agito.
Bonde: Fileira. Grupo de amigos da mesma comunidade.
Caozeiro: Quem mente demais.
Chapa Quente: Lugar que o clima é agitado.
Morô?: Entendeu?
Pancadão: Batida grave do miami bass.
Passar o rodo: Atacar.
Rolé: Passear, Andar sem compromisso.
Style: Estar muito bem arrumado.
Tchutchuca: Garota bonita.
Tigrão: Homem de aparência grotesca que consegue namorar mulheres bonitas.
Uva: Bom. O baile tá uma uva: O baile tá bom.
X9: Informante.

 Variação situacional
 É a capacidade que tem um mesmo indivíduo de empregar as diferentes formas da língua em situações comunicativas diversas, procurando adequar a forma e o vocabulário em cada situação.
No trabalho, na escola, com os amigos, com a família, em solenidades, no mundo virtual, etc.




Dependendo do grupo social que João se encontra ele muda sua linguagem. Com um colega ele usa gírias já com um professor ele usa a linguagem formal, esta mudança é justificada por João estar interagindo com grupos sociais diferentes.

Considerações importantes:
  • Todas as variações estão presentes tanto na língua falada quanto na língua escrita. Podemos, inclusive, encontrar (e usar) as variações linguísticas em diferentes contextos de produção escrita.
  • Existe uma variedade de língua padrão, que é a variedade linguística de maior prestígio social. Aprendemos a valorizar a variedade padrão porque socialmente ela representa o poder econômico e simbólico dos grupos sociais que a elegeram como padrão.
  •  É importante compreender as variações linguísticas para melhor usar a língua em diferentes situações. Utilizar a língua como meio de expressão, informação e comunicação requer, também, o domínio dos diferentes contextos de aplicação da língua.
  • O idioma pode ser um instrumento de dominação e descriminação social. Devemos, por isso, respeitar as linguagens utilizadas pelos diferentes grupos sociais. 

Referências Bibliográficas
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F.Lindley. Nova gramática do português contemporâneo.  5°ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. 1ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação. 6. ed. São Paulo: Scipione, 1999.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 20 graus. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2000.





Linguas do Brasil - Bloco 01

Programa Sotaques - PGM 01 - BL 02

Turma da Mônica - Chico Bento no Shopping